25 de jan. de 2009

Amores

A vida é cheia de amores
Amores qe chegam de repente
Que me deixam inconsciente
Estranhos, sem sentido
Doentes...

Amores santos e prostituídos
Do afeto à luxúria
Do desejo à repulsa
Da paixão ao ódio
Opostos...

Amores que nunca saem da cabeça
Outros que expulso
Alguns que arrebatam
Ou que destruo
Estranhos...

Amores que me fizeram conhecer o mundo
Às vezes conhecer a mim mesmo
E descobrir que são todos criação da minha mente
Uma simples loucura de um poeta
Perturbadores...

Amores insanos, pagãos, proibidos
Que muitas vezes neguei
E outras chorei
Sozinho
Tristes...

Amores que reecontrei
Ou que simplesmente descobri
Carentes, suficientes, idolatrados
Encantadores, tentadores
Desgraçados...

Amores que me dão vida
E me matam a cada instante
Por um momento me fascinam
Mas por dentro me destroem
Viciantes...

Não sei sem eles respirar
Não sobrevivo
Quero correr
E ao mesmo tempo ficar
Irrequietos...

Lábios, cheiros
Braços, abraços
Corpos que se completam
Ou se repelem
Lindos...

Corações temporários ou eternos
Doces ou de pedra
Que se doam, que se entregam
Que me negam
Destrutivos...

Amores que mistutam juízo e carnaval
Me levando para o bem e para o mal
Do céu ao inferno
Arrumados na minha confusão
Irresponsáveis...

Amores que me prometeram
Me deram e me tiraram
A alegria e a tristeza de viver
A capacidade de me doar e de me fechar
Corruptos...

Amores que pedi
Ou que implorei
Às vezes pra mim roubei
Só pra me iludir
Idealizados...

Amores que me deram vida
Sossego e paz
Os mesmo roubaram de mim
A tranquilidades do cais
Perdidos...

Amores que me fizeram acreditar na pureza de um sentimento
Palavras que trouxeram a desilusão
Vida perfeita, vida destruída
Olhos que me ensinarama a diferença entre amor e paixão
Mentirosos...

Amores temporários de anos
Duradouros de segundos
Que surgiram inesperadamente
E se foram num piscar de olhos
Banais...

Casados e solteiros
Homens e mulheres
Inocentes e vividos
Amores no final
Pra quê?

E quando uma lágrima cai
O mundo já não faz sentido
Meu sorriso é só disfarce
Ana me cantou que nem mais preciso

5 de jan. de 2009

Prosopoéia Perversa


Inescapável solipsismo
destronaste a ciência clássica
rindo-te
de nossa presumida objetividade

Sarcástica, a emergência quântica
preferiu a poesia
e buscou paradigmas
nos galos de Cecília

Perversa é a prosopopéia do efêmero
ao revelar-se o infinito

21 de dez. de 2008

Maria

alex prager2

Maria acordou sorrindo, sonhou com um tempo onde não havia nada, nem mesmo ela e se sentiu bem. M aria é estranha, mas se sente viva quando tudo parece morto. Maria, Maria! - chama sua irmã – Corre pra cá! Vem ver a festa! Mas ela não vai. Maria não gosta de festas. Maria não gosta de nada, nem de sonhar.

Maria é assim, morta e viva e triste e bela. Semi-perfeita em seu nome curto e beleza dura. Maria é tão blasé que nem sei como ela pode ter uma história. Na verdade ela não tem ums história, ela não tem nada, só uma descrição. Maria não faz nada, não ama ninguém, não estuda, nada aprende. Maria apenas está ali, Maria é como um rosto do outro lado da rua, você nem vê, nem mesmo sabe que ela está ali, mas lá está ela com sua vida e morte e beleza e tristeza. Maria é assim, como um flamingo pegando carona numa kombi cheia, caso você a veja apenas ri.

Maria é um eco, uma resposta vazia e mecânica que grita e grita e grita e acaba. Assim, sem início nem meio nem fim. Maria não pode ter uma história, Maria não aparece na tela nem vai ao cinema nem sabe de nada. Maria é grão de poeira que a gente sopra do dedo, é um dente-de-leão recém soprado. Maria é o fim da picada.

7 de dez. de 2008

Vida que segue

A chuva chovendo em chi cai na fonte, na casa, no carro, na cabeça de quem passa na rua.

Na casa, na canaleta, no ralo cai na água que chove, que encharca e transborda.

Na casa, na chuva, na cama, tem um caso que rola solto na vida. Casaram-se dois, tornaram-se cinco. Hoje a moça que cose, cozinha para cinco famintos, cinco caminhos distintos que cosem, que cruzam na corte, na casa, na chuva.

Na calha da vida corre a àgua do tempo. Nas vidas que seguem caminham as cores em curvas cosidas pela moça que hoje cozinha na copa. Caminham em cruzamentos, em caminhões carregados em pacotes de vida. caminham e cessam com a chuva; Retornam à casa. Cavalgam e trotam na calha, correm.

Canudos e colheres na sopa com legumes cozidos com carinho pela cosinheira e costureira da casa, que agora cutuca o pano com a agulha de aço: cose o cobertor do neto. Caminha da copa para a cama e da cama para a copa, somente.

O chuvisco carrega a canção, chora o cavaco, cambaleia o caminhar dançante, conquista-se outra dama que coserá novas vidas.

Cachorros, canecos, cadernos, canetas, chuvas, casas e camas. Caminhões com carga de vida caminham nas curvas do tempo, aceleram e se acertam nas rotas dos campos. Ultrapassam as quedas e covas conforme caminham. Carregam as cruzes no peito e confiam em cristo os caminhos, as vidas.

Conferem as cores e cheiram as flores, esperam a chuva passar enquanto sonham com as casas e as esposas costurando com carinho o manto quantinho que lhes aquece nos bancos, na estrada.

Constrõem o futuro nas curvas, nas vidas conquanto não escapam da morte e ficam numa nova casa, uma cova, onde escorre a chuva, com tristeza.

Caminham crianças rumo a uma nova rota. A chuva ajuda o café a crescer, chega a colheita, a nova canção, costume no campo. conquista-se a dama que coserá outro rumo para os que descendem do caminhoneiro. construir-se-á outro caminho, outra casa, outro futuro. Ficará a chuva escorrendo na calha, chiando na fonte, contando o tempo.

por Mariana Casals

este texto foi publicado no jornal "O Letrário" ano IV nº1 em agosto de 2006

27 de nov. de 2008

Valsa Silenciosa

Valsam com os olhos por entre a sala, amam-se em segredo. Rodopios magnânimos quando se perdem um no outro.

Toca uma música que só eles ouvem, toca para eles. Mão na cintura, outra junto da mão dela e ela põe a que sobre sobre o ombro do amado. Ficam eles coloridos e os outros em preto-e-branco. Três pra cá, três pra lá e um rodopio, ganham o salão e encantam a platéia e percebem, então, que continuam parados, cada qual em sua extremidade da sala. Rubram, imaginam que os outros perceberam a cena que só se passou para eles. Perguntam-se se cantarolaram a valsa e rubram mais ainda.

Mal se falam no corredor, apenas trocam olhares, perdem-se, gaguejam por insuficiência de concentração e valsam lindamente. Vez ou outra encontram-se sozinhos e abraçam-se, entrelaçam-se, conversam abraçados, calam-se, sentem-se, amam-se. Sobrevivem de instantes à sós.

Mariana Casals em agosto de 2005

A visão da Donzela no livro "A Demanda do Santo Graal"

Parte 1

Quinze anos, nascida e criada no castelo Brut, nome dado por meu pai, Brutos, o Rei e dono do castelo. Nada em minha vida era maravilha, posto que vivia só, com minha ama e sem muito contato com o povo. Sou a donzela mais formosa do reino de Logres, entretanto minha aparência é mais feliz que meu coração.

 

Entre tantos dias comuns, um outro dia amanheceu e anoiteceu sem nada de especial. Vesti-me com minha ama, tomei café, almocei, participei da vida do castelo. Nada que encantasse ou fizesse aquele dia em particular ser maravilhoso.

 

Naquela noite chegaram cavalgando dois homens, dois cavaleiros que por ali passavam e que meu pai convidou para pernoitarem no castelo. A partir daquele momento me senti realmente viva.

 

Os cavaleiros chegaram, foram desarmados e convidados para a janta. Participariam do banquete noturno de meu pai. Ao chegarem, sentaram perto de Brutos e comeram com a fome de cem leões. Parecia que não tinham se alimentado aquele dia todo. Mas mesmo assim responderam a todas as perguntas do rei. Ele queria saber de seus feitos, das batalhas, das missões, de tudo. Conforme contavam senti-me muito, muito feliz. Os dois homens, Galaaz e Boorz, tinham aventuras em terras que eu nunca ouvira falar. Eram verdadeiros cavaleiros, com coragem e honra.

 

Galaaz é tão formoso, sua voz tão firme e doce, tão bravo e maravilhoso que me fez sorrir atenta a ele durante todo o jantar. Nada me tiraria os olhos daquele homem, não queria que as estórias acabassem, nem que a noite acabasse para eu poder ficar ali, admirando-o e sorrindo, como nunca antes sorri.

 

Era amor. Sim, amei-o em cada palavra que ele pronunciou, e a cada palavra o sentimento ficou mais forte e nítido. Cada olhar que ele lançava em minha direção era um céu, mesmo que ele não estivesse me vendo, ele me olhava. Era como se não houvesse mais nada no salão, mal comi de tanta excitação com aquelas aventuras. Eu podia me ver num castelo meu e dele, um castelo lindo como o que eu vivia e vi-o em cada uma das batalhas, quando terminadas, voltando para os meus braços, para o meu amor.

 

Brutos terminou de comer, também os cavaleiros e os outros que lá estavam. Cem estórias estavam contadas e era tarde. Papai dispensou-os para que pudessem dormir e também se retirou. Retirei-me assim que os cavaleiros saíram, minha ama me chamava.

 

Cheguei em meus aposentos e agora choro. Choro como nunca havia chorado. Deitei-me em meu leito e entreguei-me a esta dor. Sei que o que eu sinto é impossível e irremediável, não poderei nunca ficar com ele. Meu pai tem grande admiração por cavaleiros, mas não permitiria casar-me com um deles. Estou perdida! Queria estar agora com Galaaz. Queria estar com ele só por estar com ele. Sinto até mesmo a falta dele, nunca o vi antes, nem sei se o verei depois, mas sinto a falta dele. Queria passar o resto da noite com aquelas aventuras, passear com ele nos jardins do castelo e viver este sentimento até que se esgote, se um dia se esgotar.

 

Ele é tão jovem, poderia ficar comigo e entender-me. Ele tem maravilha no olhar, na voz e em tudo que pude perceber dele. Ele deve me querer também, tenho mais ou menos a idade dele e ele deve ter me reparado, sou, afinal, a mais formosa do reino inteiro, sou a donzela filha de Brutos, o rei que lhe ofereceu um banquete mais que farto. Deve ter me reparado.

 

Oh, não queria estar chorando, mas eu o quero tanto! Quero o para mim, ao meu lado, em meus braços, quero esta nos braços dele, quero-o! Quero acordá-lo e dizer-lhe que fique comigo. Por que tenho de ser a donzela mais formosa e a mais impossível do reino? Por que não posso simplesmente dormir com ele? Por que este choro não cessa?

 

E vem a ama perguntar-me  o motivo de tanto desespero.

 

- Dona, não é nada, deixeis-me só.

- Dizei-me o que tendes e donde vos vem este pesar.

 

Nada respondi. E ela novamente insistiu, ameaçou contar a meu pai. Não posso deixar que ele saiba, ninguém pode saber! Nem a ama! Tomariam-me por mal, pensariam em desgraça e desonra da família, apenas por meu sentimento. Não posso deixar que percebam. Não posso!

 

Se papai o souber vai me castigar, vai me prender e meu contato com o mundo vai se reduzir a ama e a este aposento minúscula em relação ao que eu quero conhecer e ver e sentir. Nada mais sentirei aqui dentro, só a dor do emprisionamento e da tristeza.

 

Ela não pode falar com ele sobre meu pranto!

 

- Ai, dona! Por Deus, não vades; antes vos direi o que me perguntastes, mas prometa-me não dizerdes nada a meu pai.

- Não tenhais medo – disse-me ela – porque, se é coisa de encobrir, eu vo-la encobrir muito bem.

- Eu amo tanto um dos cavaleiros andantes que aqui estão, se não o tiver à minha vontade, não chegarei a amanhã, antes me matarei com minhas mãos.

 

A dona pareceu espantada e agiu como mãe, disse-me que desistisse desta idéia porque, mais cedo ou mais tarde, meu pai acabaria por saber. E, quando soubesse, me mataria e mataria a todos que tivessem me ajudado. Ela parece temer por mim e por ela, e por ele, que também acabaria sendo perseguido e, por fim, morto.

 

Minha ama explodiu em mim, me fez prometer guardar meus sentimentos para mim e não mais dizer nada a respeito deste assunto. Desejei estar morta, quero-o, mas acabei por prometer. De nada adiantaria aborrecê-la, nem discutir com ela. Voltei aos meus travesseiros e tornei a chorar.

 

Prometi que ficaria sem falar dele e sem fazer nada, mas não tenho como esquecê-lo. Ele está em cada segundo, em cada pensamento, em cada uma das minhas lágrimas e dos meus desejos. Quero-o! Quero-o tanto!

 

E se fosse ao leito dele? Ele me receberia? Trataria-me como donzela que sou? Preciso ir! Preciso saber se ele quer! Preciso dele!

 

Tomo coragem e vou quando dormirem, quando a ama se retirar e for dormir ela também. Espero.

 

Foram mais quarenta e cinco longos minutos até que ela saísse. Estou com os trajes de dormir, mas vou assim mesmo ao encontro dele.

 

Preciso ficar. E a honra? A família? E meu pai? Desgraçarei seu nome sua honra se eu for. Preciso ter juízo e saber agir.

 

Um pensamento de culpa levou a outro e por fim sucumbi à vontade do Amor, indo contra os meus princípios de donzela.

 

Parte 2

 

Meu Deus! O que eu acabei de fazer! Estou em trajes de dormir nos aposentos de um completo estranho, um cavaleiro andante que nunca antes vi, nem nunca mais verei depois que ele partir. Ele ficará aqui uma noite, duas talvez e estou aqui, em desgraça e desonra, posta nesta bandeja e entregando-me eu mesma a ele.

 

Já estou aqui, e lá está aquele rosto formoso que tanto me fez sorrir hoje, lá está aquele cavaleiro maravilhoso.  Já estou aqui, quero-o tanto!

 

Deitei-me ao lado dele, em seu leio, em seu cobertor. Foi a ação mais difícil que tomei na vida, tive que criar coragem, como ele teve de criar em suas aventuras. Eu aqui na cama dele, debaixo do cobertor em que ele dorme, pensando igualmente na vontade de estar com ele e na desgraça que seria se me descobrissem aqui. Meu coração bate mais forte, posso ouvi-lo bater e sentir este rubor que me faz ficar quente e suada.

 

Agora sei que não foi sensato vir aqui, não foi justo com ele e comigo,  esta vida não é justa comigo. Tenho um pai que é Rei e que mal posso chamar de pai, pois não me ama, ama apenas aquilo que represento. Maldita seja esta honra, esta graça, esta pureza e negócios que represento. Não quer que eu seja feliz, não quer que eu ame, especialmente que eu ame este vilão que me tem aqui deitada, encantada e tão, tão sozinha.

 

Sempre vivi só. Vivi sozinha naqueles aposentos que dizem meus, naquela sala com ante-sala e leito. Minha ama é minha mãe, mesmo sem sê-la. Vivo aqui, presa. Quando casar, mais presa ainda viverei. Porque agora sei o que é Amor. Agora sinto a felicidade e o coração batendo em maravilha. Minha vida de nada vale sem este amor, sem este homem que me tome e me possua. Quero-o! Não posso tê-lo.

 

Meu Deus! Estes pensamentos, este lugar, tudo que penso, que sinto, que vejo, que lembro e as lágrimas que me voltam aos olhos. Casar-me-ia com um homem e seria meio viva e meio morta. Agora não posso viver sem este cavaleiro andante, sem o Galaaz. Preciso disfarçar este choro, preciso chorar mais baixo. Ele pode perceber-me e estará tudo acabado.

 

Que vida desgraçada, que lágrimas desgraçadas. Falo sozinha baixinho, com grande timidez, não quero que ninguém me veja nem me ouça e, ao mesmo tempo, quero muito que ele acorde e me tome.

 

- Ai, louca e néscia, que é isto que dizes? Tu não poderás fazer nada por este cavaleiro que não te seja vergonha e desonra. Tu não poderás fazer por ti mesma nada que não seja infeliz.

- Ai, infeliz, o que é isto que vejo? Ele é cavaleiro daqueles que a alegria está sempre em penitência, sempre pensando no bem maior para o mundo. De nada me vale minha carne mesquinha e trêmula, de nada me vale este corpo perto deste Galaaz. Perdoai-me Deus por fazer mal contra ele. Perdoai-me por fazer mal contra mim! Este cavaleiro é um dos verdadeiros cavaleiros da demanda do Santo Graal e em má hora foi tão formoso para mim.

 

Não consigo parar de chorar. Sei que ao encontrar-me ao lado dele, ele cumprirá minha vontade. Ele terá em mim prazer e... Ele está acordando!

 

Deus me ajude, pois ele está acordando! Ele me amará? Ele me notará? Ele me tomará? Seu rosto ao despertar, antes de me ver, foi maravilha. Antes de abrir os olhos, seu corpo encostou-se ao meu corpo desnudo e tocou com o tórax meus seios, quase se apertando contra eles.

 

Mas, neste instante, com os olhos abertos, foi-se embora a maravilha! Ele agora vê sabe que é a filha do Rei Brutos deitada em seu leito, ele sabe quem sou e por isso não me quer. Poderia eu ter outra face quando ele acordou? Será que ele esperava outra por isso a felicidade antes de abrir os olhos? Que será que ele pensa agora?

 

Dentro de meu espanto nem o vi se afastar. Ele está na beirada da cama, quase do lado de fora, desesperado para que eu saia. Olha-me como se eu estivesse a violá-lo, não me quer, visivelmente não me deseja.

 

- Ai, donzela! Quem vos mandou aqui certamente mau conselho vos deu. Rogo-vos, por cortesia e por tua honra, vades embora. Não entendo vosso louco pensar e sei que devo recear pelo que me acontecerá se eu fizer a vossa vontade.

 

Meu pensamento está agora confuso, misturado e terrivelmente perdido. Perdeu-se a maravilha e o encanto de antes. Ele não me quer, não me deseja, não vai me possuir e não quer que eu fique. Manda-me embora e sequer pensa em mim, a não ser por meu pai, de quem claramente tem medo. Sou assim tão indesejável que nem este vilão quer me ter? Sou assim tão desgraçada que nem mesmo meu pai, que deveria me amar não me ama e Galaaz, a quem eu quero não me quer?

 

Minha expressão de confusão e decepção o faz parecer ainda mais zangado comigo. Zangado e logo comigo! Zangado e sem me amar. Zangado e sem me querer. Zangado e ainda mais zangado sem me explicar.

- Ai, donzela! Desatinada estais; lembrai-vos de vossa situação e olhai a altura de vossa linhagem e de vosso pai e fazei com que não tomem desonra por vós.

 

Desonra? Estou farta desta palavra! Estou triste e quero este cavaleiro que se põe na minha frente e que nada sente por mim senão pena e surpresa. Nada me vale mais, nada! Recomponho-me por dentro e respondo, logo depois da última fala dele.

 

- Senhor, não há necessidade disso, pois que tão pouco me prezais, que de modo algum não quereis senão matar-me. E a morte está comigo logo, porque me matarei e vós tereis por isto maior pecado do que me tivésseis convosco, porque sois a razão da minha morte, e vós ma podereis impedir, se quiserdes.

 

Disse-lhe de matar-me sem pena, haveria de me desejar, ou me acolher, ou pelo menos me explicar. Haveria de me dizer que sentia muito, que  preferia a minha vida. Haveria de dizer-me qualquer coisa, desde que tivesse zelo por mim.

 

Nada me diz de positivo agora. Diz-me  que se eu me matar será sem propósito, que se sou mesmo a mais formosa que deus já criou que ele não mais me olhará e fala-me de virgindade e pureza de corp e espírito. Não sabeis? Como poderei ser pura se nunca poderei ser feliz sem vós? Como poderei ser honrada se estou destinada a viver sabendo que eu estive em vosso leito e vós não me quisestes?  Nada vos digo, meu Galaaz, mas tudo sinto dentro de mim com muito pesar. Em minha pobre vida, em minha vasta linhagem e educação, ninguém me ensinou o verbo amar, ninguém me disse o que realmente era sofrer. Nem vós, que mo ensinais destas misérias, nem vós nada mo dizeis sobre elas. Meu ser chora por dentro com as palavras dele, meu ser morre aos poucos pela miséria deste amar.

 

- Como, cavaleiro, ainda quereis ser tão vilão que me não quereis outra coisa fazer?

- Não – disse-me ele.

- Se eu morrer neste leito, você também morrerá pelo meu temido pai, que não vos deixará sair com vida depois de matar-me ou de deixar-me matar-me.

- Não sei o que será, mas prefiro morrer sendo leal a escapar da morte cometendo um erro, o que eu não quero cometer.

 

Meus pensamentos borbulham. Nem assim me quereis, nem assim me desejais? Não deixo de pensar em matar-me, quero sair desta desgraça, não a desgraça desonrosa de me oferecer a um homem, a desgraça de amar e não ser amada, a desgraça de não poder controlar o que ele sente, não poder evitar que ele não me queira nem que ele me despreze, como faz agora. Vós me matais, cavaleiro, antes de ter uma espada em meu peito, tenho uma em meu coração e faria qualquer coisa para conseguir dar fim a esta tristeza.

 

Lá está a espada deste infeliz e amado Galaaz, a quem tanto estimo e detesto neste instante. Lá está aquela espada pesada que o ajudou em tantas aventuras e que agora me será tão boa. Tirei-a de seu recanto, saquei a bainha e agora a tenho em ambas as mãos que tentam equilibrar seu peso.

 

- Senhor cavaleiro, vedes aqui o engano que havia nos meus primeiros amores. Nunca soube do amor como sei agora. Nunca antes soube da miséria de amar como neste momento.

 

Ele agora que me viu com a espada. Tolo, achou que eu estava em meios de partir. Bom, assim estou, mas não apenas de seus aposentos. Não posso conviver com a rejeição, o amor, a dor e a consciência de ter estado aqui esta noite e vivido estes momentos com ele.

 

- Ai, boa donzela! Tem um pouco de paciência e não te mates assim, que farei todo teu prazer.

 

Se apenas ele soubesse dizer-me isso antes, se apenas ele não fosse tão tolo de achar-me boba e que depois de oferecer-me para ele, depois da rejeição terrível que ele me fez sentir e, principalmente, depois de tê-lo dito que me mataria, que eu apenas voltaria para o meu próprio leito e dormiria. Ai, Galaaz, por que não me dissestes isto antes? Apenas três minutos antes e terias um final diferente...

 

Meu coração se enche de cólera e atiro esta resposta:

 

- Senhor cavaleiro, tarde mo dissestes.

 

Nem bem terminei de dizer-lhe isto, a espada foi levada pela cólera e entrou em meu peito rápida, dolorida. Nem bem terminei de dizer-lhe e minha última lágrima desceu quente pelo rosto e pela veste.

 

Por Mariana Casals, para a disciplina Literatura Portuguesa I, prof Marcos Motta, na UERJ.

Julho de 2007.

Diálogo imaginário sobre Tess of the D´urbervilles

Jane Eyre:
Por que um Bildungsroman feminino torna-se necessariamente trágico na perspectiva de um homem?
Mary Shelley:
Bildungsroman
é tragédia.

25 de nov. de 2008

A theatrical reading of Jane Austin´s Pride and Prejudice

Prologue

And now.... a few characters from Pride and Prejudice, tired of arguing about their opinions decide to take a travel through the time tunnel.

When a girl have some issues to discuss, when a girl's thoughts can't be understand by her family and society, what does she do to try to solve it? Write a book? Where can she go? To a shrink? Starring a mexican soap opera? Appear in all tabloids? No... nowaday we have a better solution. The right place for a girl to go and know for sure she will be listened and understood. Only one person has the answers to every single thing nowadays...

And this is what we are going to show you…

Play

Voz de fundo: Liiiiiive, from the BBC Studios... The Oprah Winfrey Show! And with you ... Oprah Winfrey!!!

Platéia: ÉÉÉÉÉ!! (BERROS E APLAUSOS)

Oprah entra arrasando.

Oprah: Thank you, thank you. Welcome to one more Oprah Winfrey Show! And today, we have a very serious issue to talk about. And it is something that happens to a lot of girls nowadays... What to do when you start getting to old to grab a husband???

Platéia: (cochichos e olhares sérios): “Yeah...” “Oh God...” “I wouldn’t know…”

Oprah: And what should a mother do when her daughter is getting old but is too proud to accept the proposals she receives?

Platéia: Ooooohhhh.

Oprah: Yeah... I know... So, the first guest I will receive here today is Miss Elizabeth Bennet.

Elizabeth entra cheia de orgulho, arrogância e imponência. Platéia aplaude.

Oprah: Well people… Miss Bennet here is a good example of what we were just talking about. She is a 20 year old girl and is still single....

Mrs. Bennet entra berrando: Not for long!!!!

Mrs. Bennet olha a platéia e finge falso rubor e vergonha.

Oprah: Mrs. Bennet, ladies and gentleman! This young lady's mother.

Platéia aplaude sem entender muito.

Mrs. Bennet se enfia entre Elizabeth e Oprah no sofá, mandando Elizabeth "move over".

Mrs. Bennet: Thank you... Well... I was waiting backstage, reading a book and not paying much of attention, but you know... (e num tom mais baixo e se aproximando de Oprah) you cannot just tell everyone about my daughter's... er... condition... like this. Such a beautiful and gifted girl will soon get married. And she even has 2 suitors...

Elizabeth: Mother! I do not have...

Mrs. Bennet: Yes you do! (e baixinho perto dela) I know what I am doing. Propaganda is everything in this business... especially when nationally spread through TV!

Elizabeth: Mo...

Mrs. Bennet: Shh! (e para Oprah) As I was saying, she had a suitor... But that fake friend of hers... Charlotte Lucas, grabbed him, poor Mr. Colins, when he came here to propose to my daughter.

Elizabeth: Mother! I refused him! And she is not...

Mrs. Bennet: Shh! I mean, I know she is 27 year old, and would never find anyone who would want her by this time, but...

Um barulho de risadinhas no fundo do palco chama a atenção de Oprah. Kitty estava numa cochia espiando e rindo. Mary atrás dela, parece entediada.

Oprah: And who are those...

Mrs Bennet: My other beautiful daughters!!! (acena para elas entrarem no palco e para que o público aplauda). Kitty entra e se senta no sofá apertando cada vez mais Elizabeth. Mary não sai da cochia. Mrs. Bennet arruma Kitty e a manda sorrir. Kitty sorri e se exibe exageradamente.

Mrs Bennet para Mary (séria): Mary! Come here! Will you have a better chance of finding yourself a husband than in TV?

Mary entra contra a vontade e se larga no sofá. Mrs. Bennet a arruma também.

Mrs. Bennet (para suas filhas): Smile, smile... Remember, there is no better chance to be noticed by lots of possible suitors than in TV!

Mrs. Bennet: These are Mary, who is 18 years old, and Kitty, who is 17. Look how pretty they are! And also very gifted. I still have Jane, my elder daughter. She has married a handsome nobleman called Mr. Bingley, I am sure you know who he is. So she did not need… I mean, she could not be here tonight...

Oprah: But I understand that you have one more daughter, don't you Mrs. Bennet?

Mrs. Bennet's happy face fades, but she pretends happiness talking about Lydia. : OH... yes... well My Lydia is already married as well, and at the age of 15, you know...

Elizabeth: She hasn't gotten married! She was seduced by Mr. Wickham and has eloped with him!

Mrs. Bennet: She is married now! Different from you, who is seated here being called single right now! You are not getting any younger, you know?

Elizabeth: Oh! And thanks to you that she has eloped, I mean (com ironia) gotten married, isn't it mother?

Mrs Bennet: Oh! I am going to call your father, missy... Mr. Beeeeenneeet.

Elizabeth: Oh God! Let my poor father alone, for God's sake...

Mrs. Bennet: Mr. Beeeeenneeeet. He is never... He is always in that chamber!

Elas começam a discutir, Mary e Kitty também entram na bagunça e Oprah interrompe tentando controlar a bagunça das mulheres Bennet. (Elizabeth.: “Oh my God Mother...” Mrs Bennet: “What? It is true…Oh, my nervs...” Kitty: “ Mom, mom! Am I looking beautiful??” Mary: Oh God… here we go” – todas ao mesmo tempo)

Oprah: Ladies, LADIES! As I understand Miss Lydia as been founded and now is married, thanks to a noble man...

Elizabeth: Aaaaafffff..

Oprah: Mr. Darcy, wasn't him?

Mrs. Bennet: Oh Yes! Mr. Darcy! What a gentleman! And now he wants to marry my daughter Elizabeth! And she going to accept it!

Elizabeth (revoltada): What??? I am not going to...

Oprah: Ladies.... Why don't we call Mr. Darcy here and he tell us if he is going to propose to Elizabeth or not?

Elizabeth: Aaaaafff....

Oprah: Ladies and gentleman, Mr. Fitzwilliam Darcy!

Platéia aplaude, berra e suspira. (lindoooo) (cartazes: Mr. Darcy, if she doesn't marry you, I will!)

Mr. Darcy entra no palco, olha para as Bennets, faz cara de desdém, e se senta do outro lado de Oprah, tentando manter distancia das Bennets.

Oprah: So, Mr. Darcy. You are the hero who helped the Bennets and the Gardners finding young Lydia!

Mr. Darcy: Well… yeah…

Mrs Bennet (empolgada): And now he wants to marry my Elizabeth!

Elizabeth: Mother!

Mr Darcy: Actually… She is tolerable, but not handsome enough to tempt me.

Platéia: Oooohhhh!

Elizabeth: (para sua mãe) You see! And this is what I get for you attempts to throw me to the most prejudiced man I have ever seen! Did you forget that he was the one who almost destroyed Jane's marriage with his friend, Mr. Bingley? Only because of prejudice? I would never marry such an arrogant lord!

Platéia: Oooohhh!

Mr. Darcy: But… you have to understand that I thought she was not actually attached to him, that she only wanted to marry him because you all are…

Elizabeth (indignada): What??? What are we???

Platéia: Oooohhh!

Oprah: Darlings… please! Let´s see what does our audience thinks.

Oprah se levanta e vai com um microfone até a platéia, onde uma mulher está ansiosa para falar.

Oprah: Yes dear! What do you think?

Audience 1: I’m with you, girl!!! He’s arrogant, he’s snobbish… He doesn’t deserve you! You are intelligent, you’re waaay ahead of your time! YOU ARE A CHICK FROM ENLIGHTENMENT, GIRL!

Platéia aplaude e berra concordando.

Oprah: Girls, girls! Let’s see another opinion...

Outra pessoa na platéia levanta.

Audience 2: Oh, I HAVE to say something!

Oprah: Yes dear?

Audience 2: (para a audience 1)Oh, shut up girl!!! (e para Elizabeth) Why don’t you just grab him??? He is handsome, he is rich, he is influent… He is SOOOOOOO in love with you!!! What else do you need in a man??? (e para Mr Darcy, numa voz sedutora) And Mr Darcy… If she doesn’t want you… I DO!!! Actually, my cell phone is 9…

Oprah: OK GIRL!!! THANK YOU!

Mrs Bennet: You see!!! That’s how you should be acting!!! He is a good man! He will be good for you.

Oprah (encantada com a preocupação de Mrs. Bennet com a filha): Oooohh... See, Elizabeth! Your mother only wants you to be well.

Mrs Bennet: Of course!!! Have you seen his posesions? Here! Look! I have some pictures! (e mostra umas fotos para Oprah e Elizabeth) Look how huuuuge his rear state is! And look at this art works! He even has an statue of himself in the middle of the house!

Oprah e Darcy olham para Mrs Bennet espantados com a total falta de noção dela.

Elizabeth arranca as fotos da mão de Mrs Bennet.

Elizabeth: OH MOTHER!!!

Mrs Bennet (sem entender): What??

Elas começam a discutir novamente.

Oprah: DEARS, DEARS… PLEASE!!! (e para Elizabeth) Darling... Don't you see that this man has always loved you?

Platéia: Ooooohhhh

Oprah (se dirigindo a Elizabeth quase que de forma maternal): And that when he realized that he was wrong about your sister Jane, he encouraged Mr.Bingley to marry her, which he Did!

Platéia: Oooohhh

Oprah: And that even though he is a nobleman, still he has helped your family when your sister Lydia eloped with Mr. Wickham, only because of his affection towards you?

Platéia: Oooohhh

Mrs Bennet (nervosa e angustiada): And for God's sake! This man has already proposed you twice! How many proposals do you think you still have ahead to dismiss????

Platéia (aplaudindo e berrando): YEEEEEAAAHHHH

Oprah (com um olhar perspicaz, de quem está armando algo): People, people... I think Mr. Darcy here has something to say to Elizabeth, don't you think?

Platéia: Ooooohhhh

Mrs. Bennet: Oh, God, I hope he still has...

Oprah (com toda sua labia): Come on Mr. Darcy... one last try...

Mr. Darcy: Ok, ok....

Mr. Darcy se levanta e ajoelha de frente para Elizabeth

Mr. Darcy: Elizabeth... will you finally accept to marry me??

Elizabeth: Ahm... I thiiink I may....

Mrs. Bennet (revoltada): You think???? You think????

Oprah: Giiiiiiirl... this attitude of yours is going waaaaaaay too far....

Mr. Darcy (revoltado, com o orgulho ferido, se levantando e dando as costas): I knew it... She is too damn proude to...

Elizabeth (se levantando): Ok, ok. I will!!

Platéia (APLAUDINDO): YEEEEEEAAAAHHHHH!!!

Mr. Darcy hugs Elizabeth and spins her around.

Oprah: And this was The Oprah Winfrey Show, live from the BBC studios! Don't miss next week when we are going to discuss if man can actually create life with his bare hands, with the presence of a doctor who says he actually did it!
Audience 2 levanta o seu cartaz para Mr. Darcy e o vira ao contrário, onde diz: Frankstein, if nobody else wants you, I’ll marry you!

Platéia (APLAUDINDO): ÉÉÉÉÉÉÉEÉ


THE END

24 de nov. de 2008

THE HUMAN ABSTRACT A theatrical reading of Shelley´s Frankenstein




List of Characters:
The Tree
The Creature
Dr. Frankenstein
Mrs. Frankenstein
Frankenstein´s friends
Teacher (a woman)
Husband
Children


ACT I

Scene I:

(Lights are off. The Creature enters holding a flashlight to his face.)

The Creature:

“The Gods of the Earth and sea
Sought thro´ Nature to find this tree
But their search was all in vain:
There grows one in the Human Brain.”


(The Creature turns off flashlight, lays on a table. Dr. Frankenstein stands by his side).


Scene II:

(The tree rises from the ground and lights a candle.)

Tree:

“What the hammer?
What the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dead grasp
Dare its deadly terrors clasp?

What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?”



(The Creature, lying down, turns on flashlight. He opens his eyes.)

Dr. Frankenstein:

What have I done?

(Dr. Frank steps back into darkness. Leaves.
The Creature, alone, crawls and leans against a wall. He rises, walks around, listens, touches things. He hides to watch the family.)


Scene III:

(At the blackboard. Woman teaching children to read, writes the word FRIEND on the board. She points at each letter.The Creature watches, hidden.)

Child #1:
F – R – I – E – N – D

Child #2:
Friend!

Teacher:
Everyone!

Children:
Friend!

The Creature:
Friend.


Scene IV:

(The Creature walks, sits down. He brushes away a fly.)

The Creature:

“Little fly
Thy summer´s play
My thoughtless hand
Has brushed away
Am not I a fly like thee?
Or art not thou
A man like me?”


(The family, walking, sees the Creature. Children scream, man hits him with a shovel. The Creature runs away.)


ACT II

Scene I:

The Tree:

“And their sun does never shine,
And their fields are bleak and bare
And their ways are filled with thorns
It is eternal winter there”

(The Creature runs up and down.
He meets Dr. Frankenstein with his wife, and friends. The Creature pushes them down.
Dr. Frank stands alone, screams, runs away. Creature runs after him. They leave the room.)

The Tree:

“Cruelty has a human heart
And jealousy ahuman face
Terror the human form divine
And secrecy the human Dress.”

(Dr. Frank runs into the room. He starts to slow down, falls, dies.
The Creature runs in, sees him, kneels down by his side)

The Creature:

“This is also my victim! In his murder my crimes are consumated, the miserable series of my being is wound to its close! Oh, Frankenstein! Generous and self-devoted being! What does it avail that I now ask thee to pardon me? I, who irretrievably destroyed thee by destroying all thou lovedst. Alas! He is cold, he cannot answer me.”

(The Creature turns off flashlight, hugs Dr. Frank.)

The Tree:

“The night was dark, no father was there.
The child was wet with dew.
The mire was deep and the child did weep,
And away the vapour flew.”

Ensaio sobre o conto "Estão apenas Ensaiando" de Bernardo Carvalho

A PIADA DO ILUMINADOR

No conto Estão Apenas Ensaiando, Bernardo Carvalho desconstrói ironicamente o conceito de verossimilhança, demonstrando que a imprevisibilidade e o mistério do mundo real ultrapassam os limites da mímese.
A ironia revela-se desde o início, e elementos cômicos parecem anunciar a tragédia subseqüente. Um deles é o estribilho “estão apenas ensaiando”, que repetidas vezes ao longo da narrativa remete à idéia de que os atores não estão apenas ensaiando e atribui uma significação misteriosa ao ensaio. Além disso, estão presentes a assistente, que ri incessantemente das graças do diretor, e o iluminador, cuja piada, que sofre constantes interrupções, se relaciona diretamente ao desenlace da narrativa. Por não ser revelada e apresentar interrupções que coincidem com as do ensaio, a piada é, aparentemente, a própria situação narrada.
Outros elementos irônicos presentes desde o início do conto desconstroem a noção de verossimilhança ao representar a mímese como autônoma e muito mais lógica e previsível que a realidade. Enquanto a cena sendo ensaiada está no centro dos acontecimentos da narrativa, é bem iluminada e os atores dialogam em “alto e bom som”, a realidade que se desenrola ao redor do palco parece se ocultar na penumbra. O teatro é escuro e os personagens presentes sempre se comunicam em sussurros, cochichos, ou mesmo gestos mudos. Esses elementos enfatizam a superioridade da mímese em relação ao real no que concerne à clareza e à lógica. O homem-silhueta que adentra o teatro, vindo do mundo exterior, que caracteriza um nível ainda mais obscuro de realidade por seu distanciamento, é uma personificação do mistério e da imprevisibilidade da vida real. A mímese ergue-se clara e autônoma acima de um real que é mudo, escuro e distante, e é iluminada pelo único personagem que parece retratar a verossimilhança como uma grande piada.
Tanto o diretor quanto o ator que faz o papel do lavrador, porém, mostram-se insatisfeitos perante a inverossimilhança da peça. O ator critica o texto, enquanto o diretor não se conforma com o “distanciamento” do ator que segundo ele, não seria apropriado na situação. A própria insatisfação do diretor é irônica, visto que esse exige que seja verossímil um diálogo com a morte. Essa necessidade de verossimilhança caracteriza o erro trágico dos personagens, e a própria realidade, personificada no homem misterioso, promove um desenlace absurdo e inacreditável para a narrativa. Em um instante ficcional, mímese e realidade encontram-se e confundem-se: a esposa do ator se transforma na mulher da peça de teatro, enquanto ator e “humilde lavrador” não mais se distinguem. Assim, o “distanciamento”, antes chamado de inverossímil pelo diretor, transforma-se em perfeita aproximação, em realidade. E pela primeira vez, “embora a entonação no palco tenha sido a mesma e devesse portanto, pela lógica, ser mais uma vez interrompida”, a realidade desvia-se da lógica e a interrupção não ocorre. A cena ficcional e a piada do iluminador prosseguem, fechando tragicamente, ao som de gargalhadas, a piada da verossimilhança.
A ironia, portanto permeia todos os níveis de realidade e mímese do conto Estão Apenas Ensaiando, ainda porque a realidade da obra está limitada pelas próprias fronteiras da ficção. Subentende-se então uma última camada de real, que seria o mundo do leitor. Essa construção de diversos níveis de realidade é justamente o que caracteriza a mímese como autônoma, pois se a realidade é tão fragmentada e dividida, em relação a quê poderia a ficção ser verossímil?