7 de dez. de 2008

Vida que segue

A chuva chovendo em chi cai na fonte, na casa, no carro, na cabeça de quem passa na rua.

Na casa, na canaleta, no ralo cai na água que chove, que encharca e transborda.

Na casa, na chuva, na cama, tem um caso que rola solto na vida. Casaram-se dois, tornaram-se cinco. Hoje a moça que cose, cozinha para cinco famintos, cinco caminhos distintos que cosem, que cruzam na corte, na casa, na chuva.

Na calha da vida corre a àgua do tempo. Nas vidas que seguem caminham as cores em curvas cosidas pela moça que hoje cozinha na copa. Caminham em cruzamentos, em caminhões carregados em pacotes de vida. caminham e cessam com a chuva; Retornam à casa. Cavalgam e trotam na calha, correm.

Canudos e colheres na sopa com legumes cozidos com carinho pela cosinheira e costureira da casa, que agora cutuca o pano com a agulha de aço: cose o cobertor do neto. Caminha da copa para a cama e da cama para a copa, somente.

O chuvisco carrega a canção, chora o cavaco, cambaleia o caminhar dançante, conquista-se outra dama que coserá novas vidas.

Cachorros, canecos, cadernos, canetas, chuvas, casas e camas. Caminhões com carga de vida caminham nas curvas do tempo, aceleram e se acertam nas rotas dos campos. Ultrapassam as quedas e covas conforme caminham. Carregam as cruzes no peito e confiam em cristo os caminhos, as vidas.

Conferem as cores e cheiram as flores, esperam a chuva passar enquanto sonham com as casas e as esposas costurando com carinho o manto quantinho que lhes aquece nos bancos, na estrada.

Constrõem o futuro nas curvas, nas vidas conquanto não escapam da morte e ficam numa nova casa, uma cova, onde escorre a chuva, com tristeza.

Caminham crianças rumo a uma nova rota. A chuva ajuda o café a crescer, chega a colheita, a nova canção, costume no campo. conquista-se a dama que coserá outro rumo para os que descendem do caminhoneiro. construir-se-á outro caminho, outra casa, outro futuro. Ficará a chuva escorrendo na calha, chiando na fonte, contando o tempo.

por Mariana Casals

este texto foi publicado no jornal "O Letrário" ano IV nº1 em agosto de 2006